quinta-feira, 24 de maio de 2007

Justificativa

O mundo atual, com tantas mudanças e novas demandas, exige, dos indivíduos, habilidades e atitudes diferentes das observadas em épocas anteriores.
As tecnologias da informação e comunicação favorecem uma nova postura frente ao processo ensino-aprendizagem, que já não se satisfaz mais com a informação transmitida pelo professor, mas prioriza o conhecimento construído pelos alunos.
As facilidades e a rapidez com que hoje é possível ter acesso à informação criaram a necessidade de se trabalhar na formação de um sujeito crítico e consciente de seu papel na sociedade em constante transformação. O cidadão deste século não pode ter o mesmo perfil de habilidades do século passado. Não pode mais ignorar o que se passa no mundo, necessita se inserir de maneira adequada no meio social. Esse cidadão precisa, antes de tudo, ser crítico, ativo, pensar e agir muito mais do que falar. Necessita saber pensar sobre tudo o que chega até ele através das novas tecnologias de informação e comunicação.
Saber pesquisar e selecionar as informações para, a partir delas e da experiência, construir o conhecimento, tornou-se uma real necessidade da atual sociedade.
Bachelard (1996), afirma que toda cultura científica deve começar por uma catarse intelectual e afetiva e que devemos duvidar, questionar tudo que nos chega e o que temos dentro como saber. Apresenta o “espírito científico” como uma característica do ser que esteja apto a construir o conhecimento científico.
Alguns investimentos nesta área já estão sendo realizados, como o projeto de Miguel Nicolelis, cientista brasileiro, eleito, em 2004, pela Scientific American, como um dos 20 líderes mundiais em pesquisa científica. Ele planeja tornar a pesquisa científica um agente de transformação social no Brasil. Apresenta esse pensamento no artigo “Ciência e cidadania”, publicado na Scientific American Brasil (ed.59, abr.2007). Afirma que “O Brasil está caindo num fosso educacional. Se não prestar atenção, não haverá mais volta. Sem investir no potencial humano, é melhor esquecer a idéia de fazer o Brasil crescer". Esse projeto está investindo na educação infanto-juvenil para a formação científica. Existe, também, um esforço individual do Colégio São Domingos, no estado de São Paulo, no qual foi criada a disciplina de metodologia de pesquisa para o Ensino Médio. Segundo a coordenadora, a intenção é que o estudante aprenda a fazer pesquisas mais aprimoradas, com mais qualidade. Justifica a disciplina: “Num futuro próximo, serve de instrumento para a pesquisa universitária. Os alunos chegam à graduação despreparados, porque ficam muito focados em decorar textos e fórmulas para o vestibular”.
Uma experiência que visa cumprir com esse objetivo da formação do pesquisador são as feiras de ciências.
Bochinski (1996) relata, em seu livro “The complete handbook of science fair projects”, as experiências vividas com feiras de ciências, nas quais se procura aplicar o método científico. Os alunos são estimulados a realizar projetos científicos e a exporem os mesmos nas feiras. Segundo a autora, as feiras permitem que o aluno tenha uma experiência concreta (hands-on) e conhecimento em um campo independente de estudo. Além disso, o aluno faz uso de suas próprias idéias ou de um tópico preparado pelo instrutor para investigar problemas científicos que lhe interessem. Nessa experiência, são seguidas as etapas do método científico.
Moura (1995), relata que o CEFET – MG vem, também, desenvolvendo, desde 1977, a Mostra Específica de Trabalhos e Aplicações (META), com apresentação de projetos e trabalhos práticos desenvolvidos por alunos de seus cursos técnicos de 2º grau e cursos de Engenharia. Segundo o autor, os trabalhos a serem apresentados podem ser classificados nas seguintes categorias: trabalhos didáticos, voltados para o objetivo de ilustrar, aplicar, mostrar os princípios científicos de funcionamento de certos objetos, máquinas, mecanismos e sistemas; trabalhos construtivos, que estão relacionados à construção de algo com objetivo de introduzir uma inovação e, por último, os trabalhos investigativos, que se referem à pesquisa em torno de problemas e situações do mundo, buscando soluções para os mesmos.
Porém, segundo relato do mesmo autor, os projetos mais procurados pelos alunos do LACTEA têm sido os dois primeiros tipos. O trabalho investigativo que é, justamente, o que estimula a pesquisa científica, tem sido muito pouco realizado pelos alunos.
A que se deve tal fato? O que tem impedido os alunos do Ensino Médio a procurarem a pesquisa? Seria o fato de que não têm sido estimulados a fazê-la? Ou por não saberem realizá-la? As feiras de ciências, na atualidade, têm cumprido com esse papel, de estimular o aluno a ser um pesquisador?
Se se retoma o histórico das feiras de ciências, é possível observar uma distorção nos objetivos das mesmas, descrita por alguns autores. Moura (1995) destaca que, nos anos 60, início das feiras de ciências no Brasil, no CECIMIG, prevalecia a concepção de um ensino de ciências com ênfase no “processo de investigação científica”: “...possibilitar ao aluno a vivência do processo de investigação científica e a compreensão da sua importância ... buscando-se contribuir para a formação do espírito científico do aluno”. Acabou-se, dessa forma, estereotipando os chamados “passos” ou “etapas” do propalado “método científico”, como: a observação do fenômeno, a formulação e o teste de hipóteses, a coleta, classificação e análise de dados e a conclusão da experiência. Porém, não se observava, por parte dos alunos, uma postura real de pesquisadores. Nas feiras, os alunos pareciam, muitas vezes, treinados em “recitar” esses “passos” durante a exposição de seus trabalhos.
Após esse período, as feiras perderam o ímpeto e muitas foram desativadas. Isso ocorreu decorrente de dúvidas sobre o ensino da Ciência com ênfase no processo e, também, reflexões sobre o “método científico” e o próprio saber científico.
Felizmente, segundo Moura (1995), as feiras de ciências voltaram com novos apelos e novas demandas. Pode-se identificar uma relação direta entre essa retomada das feiras de ciências com um movimento, de âmbito internacional, de incentivo a exposições, mostras, feiras e museus interativos de Ciência e Tecnologia que se define a partir desse momento.
Segundo esse mesmo autor, o mundo atual, caracterizado pelas mudanças e conquistas científicas e tecnológicas em um ritmo vertiginoso, não pode atribuir unicamente à escola a função de informar e educar o cidadão, pois essa apresenta uma habitual inércia e características específicas em seu ritmo educacional. As feiras de ciências apresentam-se como uma forma de contribuir para a formação desse cidadão.
Além disso, as feiras de ciências permitem, como prática pedagógica, a integração de dois ou mais componentes curriculares na construção do conhecimento. A interdisciplinaridade surge, aí, como uma das respostas à busca por uma educação mais ampla e mais abrangente, menos fragmentada.
Como devem ser, nos dias de hoje, as feiras de ciências?
Wanderley (1999), em sua dissertação de mestrado, procurou mostrar os problemas decorrentes da tradicional ênfase na “formação do pequeno cientista” e discutiu sobre as origens e limitações dessa proposta. Procurou em seu trabalho estabelecer novas diretrizes pedagógicas e metodológicas que pudessem sustentar a realização de feira de ciências, no contexto dos dias atuais, mais adequados às demandas educacionais de uma sociedade em permanente transformação.
Buscou fundamentar as bases para uma nova proposta de realização de feiras de ciências enquanto espaço pedagógico favorável a aprendizagens múltiplas, tanto de seus participantes quanto de seus visitantes.
Hoje, já não se observa esse enfoque exagerado na formação do cientista mirim. Porém, observa-se, também, uma crescente diminuição do interesse na formação do pesquisador, do cientista. Essa formação, como enfatizam diversos autores, é muito importante para a formação do indivíduo do novo milênio. Ao mesmo tempo, surge a reflexão proposta por Weber (1963) quando fala sobre a vocação que o indivíduo tem ou não para a Ciência. Essa vocação deve ser respeitada se se quer formar verdadeiros pesquisadores.
Daí, a relevância que adquire o tema da formação do aluno pesquisador, buscando-se compreender os motivos que têm levado os alunos a optarem por outros caminhos, que não o da pesquisa, verificando em que medida torna-se possível a realização de um projeto interdisciplinar para a formação do aluno pesquisador desde o Ensino Médio, favorecendo a formação do futuro cientista, do futuro pesquisador.

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